Herminia Silva - Vou dar de beber à alegria Text

Songtext zu Vou dar de beber à alegria


[Também podia ser Yé-Yé, olha,
Lembras-te, quando a gente fazia estas paródias? Ah, ah. Ela fazia um marinheiro americano depois voltámos: Eu fiz muitos marinheiros americanos, ela fez "um marinheiro americano" e eu fiz "um marujo português", um dueto. É um sucesso!]

Anda Armando!

Passei ontem pela rua, onde morava,
A cantada e recantada Mariquinhas,
E qual não é meu espanto,
Olho e, vejo por encanto,
Outra vez, lá na janela, as tabuinhas.
Corri e bati à porta
E até fiquei quase morta,
Quando ela se abriu p'las alminhas,

Pois, quem veio a porta abrir e a sorrir,
Era mesmo a Mariquinhas!

[Ai, a Mariquinhas 'tá uma beleza, 'tá tão linda a Mariquinhas!
Ai que linda, ai que linda, ai que beleza!
'Tá mais gordinha, pesa quatrocentos e cinquenta quilos,
Não é brincadeira nenhuma, que é mais que o dobro!
Mas como gordura é formosura,
Ela não se importa nada com isso.
'Tava a comer jaquinzinhos1 de escabeche2, quando eu apareci.
Ela assim que me viu:
- Olha a Hermínia, eh pá!
Ela sabe que eu gosto de carapaus fritos, coitadinha até fez ternura:
Tinha lá o arranjinho dela, jaquinzinhos a 320 paus3 o quilo.
Ela tinha lá cinco gramas, era para ela e para o «charmant»,4 pró «Schatz»5; depois apareceu esta intrusa; olha, foi à conta! O que vale é que os jaquinzinhos, é cabecinha, rabinho e tudo, vai tudo na enchurrada!]

Anda Armando!

Eu entrei e abracei a Mariquinhas,
Que me contou que um senhor de falas finas

Lhe deu a casa que é sua,
Pôs o prego na rua
E correu com o tal senhor, que era lingrinhas.6
Mandou caiar as paredes,
Pôr cortinas de chita
Nas janelas tão bonitas, às bolinhas.
E, por fora, p'ra chatear as vizinhas,
Janelas com tabuinhas.

[Bem-feita! Lá na rua, as amiguinhas ficaram todas danadas.
E um peso de quatrocentos quilos em cada ponta das tabuinhas, que era para elas não poderem deitar para lá os mirones.7
Aquilo é um rés-do-chão.
Antigamente aquilo era só lá chegar, e aquilo era canja, agora quem é que pode? Auguente-se8 oitocentos quilos, o que ela se havia de “alimbrar”9 hein! Mas é uma belíssima rapariga!

Anda Armando!

Ai, já tiraram os caixilhos às voltinhas
E as janelas já estão todas catitinhas.10
E p'ra afastar os temores
E o inguiço dos penhores,
Defumou a casa toda com ervinhas.
Pôs incenso das igrejas
E, p'ra acabar com as invejas,
Pôs um chifre atrás da porta, às voltinhas.
E na cama, sobre a colcha feita à mão,
Ai, debruada com borlinhas.

[Ela é muito prendada.
'Tava a fazer colcha toda em caroché11
Diz que era para oferecer a mim
Para eu estrear no Natal:
E tens qu'a pôr,12 e tens qu'a pôr, e tens qu'a pôr
Tens qu'a pôr o quê, mulher?
Tens que pôr a colcha na noite...
'Tá bem, pronto, acabou-se!
Faltavam très dias p'rò o Natal e a colcha ainda 'tava em meio. E ela, coitadinha, ali, à fossanga, à fossanga...
Ò mulher, pára lá com a costura! Quando entram as visitas de cerimónia assim como eu, pára-se logo com tudo!
Nós éramos aprendizas13 de alfaiate, quando éramos miúdas, é claro que eu não percebia nada daquilo, nem queria, eu andava a apanhar alfenetes14, agora ela não; ela já sabia “górnecer”15, como ela dizia. Hoje é uma boa costureira de alfaiate e eu sou vedeta! De maneira que ela faz assim um bocadinho de cerimónia comigo, então respondeu:
Ó filha, eu por acaso até nem percebo desses “protocóis”16. Você não percebe destes proto quê?
Então aprenda, eu é que sei! “Coltura”17, sou eu e o Pedro Homem de Melo, só, mais nada!
Uma bandida daquelas, da minha criação, a dizer «protocóis». Mas em que rimance, em que rimance,18 é que ela aprendeu os protocóis, não foi na crónica feminina, concerteza. Eu, ali, cheia de punhos de renda, nhó, nhó, nhó, nhé, nhé, nhé, e ela, pimba, «protocóis»!

Anda Armando!

A colcha é linda!
É toda aos "kódrados"19 de metro e meio
Assim com rosinhas, todas em relevo; assim com cachos de uvas ferrais, pindurados20 assim à volta, uma fundura toda em «bois de rose»
é uma beleza! Pesa cinquenta quilos. Aquilo não é sonho, é pesadelo! Agora eu, pela escada abaixo, com cinquenta manguços às costas... Eu disse escada abaixo? Ó Irene, eu disse escada abaixo, disse?
Não é, é um rés-do-cháo!

Lá está tudo, tudo, tudo, até o xaile
E a guitarra, enfeitada com fitinhas.
E sobre a cama, reparo,
Um peniquinho de barro,
Bem bonito e pintadinho com florinhas.
E eu fiquei tão contente!
E ficámos, calmamente,
A beber até de manhã, ai, ai.. uma macieirazinha,
Pois dar de beber à dor é o melhor,
Já dizia a Mariquinhas!
Pois dar de beber à dor é o melhor,
Já dizia a Mariquinhas! 1. Carapaus juvenis fritos que, por serem muito tenros, comem-se com espinha e tudo; uma iguaria típica das antigas tascas lisboetas. 2. Molho à base de azeite, vinagre, louro, alho e cebola, para tempero ou conserva de peixe ou de carne. 3. Paus: desingação popular das moedas "escudo", anterior ao "euro". 4. príncipe encantado (em francês) 5. querido, amado (em alemão) 6. Pessoa que é considerada medricas, cobarde ou fraca, ou ainda pessoa de aspeto franzino. 7. Mirones: pessoa que sente prazer na observação, às escondidas, de cenas íntimas ou eróticas levadas a efeito por outras pessoas; voyeur. 8. aguente-se 9. lembrar 10. Uma coisa «catita» é uma coisa airosa, bem arranjada. 11. croché 12. tens que a pôr ou tens de a pôr. 13. aprendizes 14. alfinetes 15. guarnecer 16. protocolos 17. cultura 18. romance 19. quadrados 20. pendurados

Herminia Silva - Vou dar de beber à alegria Songtext

zu Vou dar de beber à alegria von Herminia Silva - Vou dar de beber à alegria Lyrics Herminia Silva - Vou dar de beber à alegria Letra da Vou dar de beber à alegria da Herminia Silva - Vou dar de beber à alegria Text Vou dar de beber à alegria Herminia Silva Vou dar de beber à alegria texto

Noch keine Übersetzung vorhanden. Musik-Video-Miniaturansicht zu Vou dar de beber à alegria Songtext von Herminia Silva

Video zum Vou dar de beber à alegria


Vou dar de beber à alegria Songtext von Herminia Silva


Andere Songtexte und Deutsche Übersetzungen

von Herminia Silva

Beliebt Lyrics

Beliebt Neu Songtexte